Letícia Sekito



Premiada dançarina fala sobre a mistura nipo-brasileira em seu trabalho

Criação, improvisação e um valioso resgate cultural fazem parte do trabalho da dançarina e coreógrafa Letícia Sekito. Vencedora do prêmio Rumos Itaú Cultural Dança 2006/2007, Letícia também foi agraciada com o prêmio PAC/Secretaria de Estado de Cultura de São Paulo para a circulação do espetáculo Disseram que eu era japonesa. Conheça um pouco mais sobre o trabalho da dançarina em um breve bate-papo com a equipe Zashi.

Entrevista

Zashi - Atualmente, você pesquisa sobre os princípios do Aiki na dança. Fale um pouco sobre como surgiu essa idéia e que tipo de vivências você tem conquistado com essa pesquisa?
Letícia Sekito - Desde 2002, tenho treinado a “Respiração pelas solas dos pés” (Sokushin kokyu-hô), com orientação do meu professor de Aikidô, o sensei Ivan Okuyama, da APA – Associação Pesquisa de Aikidô. Em 2004, no processo de criação do solo Disseram que eu era japonesa (2004), resolvi, entre outras coisas, testar no meu corpo uma técnica “genuinamente japonesa” para ver se havia alguma afinidade entre a prática e o meu corpo. Desde então, o trabalho da Respiração e do Aikidô passaram a ter papel central na minha preparação corporal para a dança.

Zashi - Desde 2004, você recebe o apoio da Fundação Japão em suas pesquisas. Como surgiu o seu interesse pela cultura japonesa?
Letícia - A questão da minha identidade cultural e a minha relação com a cultura japonesa não foi algo que escolhi trabalhar espontaneamente. Acho que foi ao contrário. Digo isso porque houve um momento que muitas pessoas comentavam que, na minha dança, apareciam elementos japoneses. As pessoas me perguntavam se eu fazia Butô (uma corrente da dança moderna experimental de dança japonesa pós-guerra), e o ambiente sociocultural brasileiro estava também contaminado dos questionamentos e da mensagem de estímulos à produção artística “genuinamente brasileira”. A professora doutora Christine Greiner foi e continua sendo uma pessoa muito importante no decorrer do meu processo artístico. Foi por meio de suas palestras, encontros e conversas na Fundação Japão, por exemplo, que comecei a ter um panorama da arte contemporânea japonesa, a saber de pesquisas e artistas que refletem sobre o corpo e a cultura japonesa.

Zashi - No espetáculo Disseram que eu era japonesa, você propõe uma reflexão sobre a identidade cultural dos nipo-brasileiros. Para você, o que significa ser nipo-brasileira?
Letícia - Bom, no Disseram que eu era japonesa, eu parto da minha relação autobiográfica para ampliar a discussão às pessoas de como nós, brasileiros, construímos a imagem/realidade do Japão e da cultura japonesa.
Ser nipo-brasileira, hoje, deve ser bem diferente do que era 50, 30 anos atrás. Hoje, o Japão está na moda, o Japão está na nossa cozinha, nos nossos eventos sociais, na TV, na internet. Para mim, sobretudo agora, que fui pela primeira vez ao Japão em março/abril de 2008, ser nipo-brasileira não é algo estático, definido e determinado, é uma constante descoberta e constante construção.

Comentários