Da comédia para a reflexão

Bom dia fala sobre a americanização nos anos 50 e os costumes do Japão

Passados mais de meio século desde seu lançamento, o longa Bom Dia deixa de ser uma comédia para se tornar uma reflexão sobre o cotidiano dos japoneses na década de 50.
A produção conta as trapalhadas e enrascadas dos irmãos Isamu e Minoru para convencer os pais a comprarem uma televisão. Depois de serem repreendidos por insistirem demais na compra, eles decidem parar de falar. A justificativa dos irmãos é que os adultos falam coisas superficiais como "bom dia" e "boa noite", ao invés de falarem sobre o que realmente importa.
A rebeldia das crianças, o relacionamento entre pais e filhos e o dia-a-dia dos japoneses, tão presentes no filme, fazem parte das características que marcam as obras de Ozu. O diretor, que era conhecido como o cineasta do cotidiano, aborda no filme temas corriqueiros, como as fofocas entre vizinhas, os vendedores que batem de porta em porta e até mesmo o trajeto das crianças para a escola.
Ozu não tinha a pretensão de levar para o público um pensamento crítico ou abordar uma grande tragédia como os demais filmes japoneses. Muito pelo contrário. Sua preocupação sempre foi com o núcleo familiar e o cotidiano. Como o longa foi produzido na década de 50, época do início da americanização no Japão, as cenas que induzem ao consumo de eletrônicos ou as que mostram a procura por aulas e traduções de inglês tratavam-se apenas do cotidiano. Mas, passados 51 anos, essas cenas tão corriqueiras na época ganham um ar de reflexão nos dias atuais. Talvez Ozu tivesse mesmo uma certa preocupação em levantar uma bandeira contra a americanização do Japão, mas, para entender o que o cineasta queria dizer, é preciso prestar muita atenção nos detalhes.

Ficha técnica

Bom dia
Gênero: Comédia
Duração: 93 minutos
Direção: Yasujiro Ozu
Japão (1956)

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